Oito de março


Eu pensei, pensei bastante antes de escrever um texto hoje. Pensei em direcioná-lo pra aquele cara que deseja feliz dia das mulheres, mas que fodeu com o psicológico da ex namorada, ou pra aquele que hoje ta dizendo que não vive sem a gente, mas que desrespeita qualquer uma que passe na rua, ou na balada. Pensei em direcionar o texto de hoje pra aquele que ri quando o amiguinho conta uma piada machista, mas que hoje tá colocando a gente num pedestal. Ou para os que já levantaram a mão pra alguma mulher. Ou para os que frequentam puteiros. Para os que já julgaram alguma de nós pela roupa que a gente estava usando. Para aqueles que dizem que feminismo é besteira, exagero. Para os que traem a namorada. Para os que compartilham foto vazada de mulher pelada no whatsapp.

Mas esse ano vai ser diferente, esse ano o texto vai de fato pras mulheres. Pras que deixam a rivalidade de lado, e se ajudam juntas a crescer. Pras que precisam ouvir 'elogios' desrespeitosos do chefe, do colega de trabalho ou do cliente todos os dias, mas que continuam fortes indo trabalhar. Hoje o texto vai pras mulheres que andam com a chave de casa entre os dedos a noite, caso apareça alguém. Pras que já deram queixa contra algum homem abusivo na delegacia, mas que não adiantou de nada. Pras que já fizeram um aborto, mas levam isso como segredo a vida inteira. Pras que ganham menos que o colega de trabalho que tem a mesma função. Pras que cuidam dos filhos sozinhas. Pras que vivem escondendo o próprio corpo por vergonha. Pras que trabalham como faxineiras nas casas de pessoas que não dão o mínimo valor. Pras que são chamadas de ‘louca’ pelo ex, sabendo que não fizeram nada de errado. E, principalmente, pra todas as 180 mulheres que morreram vítimas de feminicídio do dia primeiro de janeiro pra cá. Hoje o texto vai pras mulheres que resistem, todos os dias, de cabeça erguida. Porque a mudança vai vir da gente, e só da gente.

É nós por nós.